Aeroportos flutuantes





Um engenheiro fascinado pelas possibilidades de grandes estruturas flutuantes serem ancoradas nos oceanos, ao longo de rotas aéreas de grande densidade de tráfego, rotas conhecidas por rotas ETOPS, tem proposto uma solução extremamente interessante, baseada nas rotas transoceânicas dos “Flying Boats”. Leia a seguir  a proposta de Terry Drinkard.

Aplicação ETOPS

A falta de lugares satisfatórios para pousar em uma emergência sobre oceano, leva as operadoras de transporte aéreo a comprarem aeronaves com grande autonomia e a implantarem equipamentos de bordo, para o uso do sistema ETOPS, nos voos de travessia. As aeronaves, que já vem equipadas com esta tecnologia, são muito mais caras, por serem também mais modernas. Implantar um sistema operacional ETOPS, não é coisa barata, ao contrário, custa muito dinheiro, por isso Terry Drinkard acredita que sua solução seja mais econômica, além de agilizar o tráfego aéreo, encurtando distâncias. Todos sabemos, que o caminho mais curto entre dois pontos é a linha reta, porém o planeta terra é uma esfera (não muito perfeita, mas uma esfera), portanto voamos em um arco, o que nos leva imediatamente a concluir, que voando entre dois pontos distantes da terra, nem sempre a linha reta é o caminho mais curto.
Para se cumprir as regras de voo ETOPS, todos sabemos, que nem sempre poderemos voar a rota mais curta, pois há que se respeitar a distância em tempo de uma pista de pouso em caso de emergência e obviamente, o custo aumenta, sem contar o custo de implantação e treinamento. Façam as contas. Comprar uma aeronave nova, com esta tecnologia embarcada, ou fazer um upgrade na sua aeronave mais antiga, treinamento da tripulação, aumento dos custos em função de combustível, para voar uma rota homologada ETOPS. Implementar um sistema ETOPS é muito caro e estas opções podem ser inviáveis para um operador sozinho suportar, ou para um vôo não regular e eventual, por isso quando você somar tudo estas despesas para a indústria da aviação comercial e empresarial, descobre que seu voo poderia custar muito menos, sem comprometer a segurança, ao contrário, aumentando a segurança do voo e o suporte ao longo das travessias oceânicas.





Velocidade é a chave

Como já citamos, nós vivemos  em uma esfera (mais ou menos), assim para nós, a distância mais curta entre dois pontos é de fato um arco, ou um segmento de um círculo. 
Velocidade é a essência de aviação comercial, mas para os clientes, VMO, MMO, não significam absolutamente nada.  É tempo gasto em voo, que realmente importa para o passageiro. Se conseguirmos diminuir o tempo de voo encurtando a distancia (lembrar sempre do arco) conseguimos atingir o resultado e melhorar a percepção de nossos clientes quanto a diminuição de do tempo de voo, dando a falsa impressão de aumento de velocidade da aeronave.
    
Soluções óbvias 
 
A primeira solução óbvia que vem a tona seria colocar pistas de emergência flutuantes nos oceanos, em pontos estratégicos para prover pistas de pouso seguras, no caso de uma emergência em vôo, como a perda de um motor, perda de pressurização, emergência médica, etc.
A segunda solução óbvia é voltar para os barcos voadores. Dado as realidades de formas hidrodinâmicas e as limitações eu não vejo um barco voador a jato como um produto economicamente competitivo, ficando o programa ETOPS um milhão de vezes mais barato.

O que é realmente?

Uma vez que a segunda opção está descartada, voltamos a primeira e até agora única alternativa plausível e possível economicamente. Portanto, consideramos as pistas flutuantes no meio dos oceanos, estrategicamente localizadas ao longo de rotas de alta densidade, uma solução de bom senso e suficiente para abrir uma discussão na indústria do transporte aéreo.   
Como sobre uma única pista de 10,000 pés de comprimento podemos cobrir toda eventualidade e receber aeronaves tão grandes quanto um Boeing 777-400, praticamente toda aviação que cruza os oceanos, estará atendida tecnicamente. Por que não mencionamos o A380 ou os 747-400? Porque essa aeronaves são equipadas com quatro motores, portanto não se enquadram no programa ETOPS, mas não existe problemas em se aumentar a capacidade para receber aeronaves deste porte também. 
Como fazer?

Além da estrutura, este tipo de facilidade precisaria de algum tipo de balizamento, provavelmente um ILS completo, algumas luzes poderosas, radar, rádios e outros equipamentos eletrônicos, assim um bom planejamento para prover energia elétrica é essencial. Como uma pista de emergência, requererá um corpo de bombeiros, dois tipos de equipe equipamento de salvamento e água para combate a incêndio, e um hospital pequeno. 
Também deveria haver algum espaço fixado aparte para consertos de aeronave necessários e uma doca de combustível, claro, mais espaço de rampa para estacionar duas destas aeronaves grandes, pelo menos. O time de salvamento de água requererá um par de barcos (talvez um barco de fogo), uma aeronave de procura (talvez um helicóptero), e um modo rápido de mover muitas pessoas e equipamentos, por umas cem milhas náuticas (nenhuma garantia de que se um avião cai, será em local próximo). Talvez um desses “ekranoplanes” russos sejam extremamente interessantes, seriam uma boa escolha.
A garantia da capacidade do flutuante,requererá um pouco mais de rotina de manutenção (mínimo, realmente, mas este é o preço pelo uso do concreto), a estação de manutenção, precisara ficar em um lugar abaixo da superfície, com amarrações submersas, ou apoiada no fundo e deverá conter quartos para a tripulação de revezamento.

Quanto custaria?

Vamos  dar uma olhada na questão dos custos. A “EU-90”, ponte flutuante em Seattle, Washington é uma ponte de concreto, que atravessa um por cima, um trecho de uma milha.  De fato, são duas pontes, uma a eastbound e uma a westbound. Cada uma dessas pontes custa ria hoje, U$ 100,00/metro linear, portanto uma ponte de duas milhas custaria no total, cerca de U$ 400.000,00 aproximadamente. Estes valores são aproximados.
Nós poderíamos construir a estrutura inteira por cerca de bilhão de dólares americanos, garantindo  uma de produção em um tempo razoável, com um custo equivalente a cinco bombardeiros de B-2.

Quem paga por isto? 

Qual é o valor econômico de um aeroporto seguro no meio do oceano? A resposta óbvia é que as empresas aéreas poderiam operar suas aeronaves non-ETOPS em várias rotas, que hoje somente as aeronaves ETOPS podem operar o que certamente baixaria em muito os custos destes voos. A operação ETOPS não é barata. É menos caro e mais seguro que utilizar uma aeronave de três, ou quatro motores, mas é significativamente mais caro que non-ETOPS. Também há o custo adicional do ETOPS, quanto ao programa de manutenção, que não é nada barato, mais o treinamento da tripulação, que tem que ser qualificada para operar ETOPS.
Pensando nisto, penso que se deva calcular quantos vôos cruzam o Atlântico e o Pacífico e quantos desses voos são ETOPS. Eu faria uma aposta de que quase todos os voos cruzando o Atlântico hoje em dia, são ETOPS e uma porcentagem muito grande dos voos que cruzam o Pacífico, também são ETOPS. A diferença em custos operacionais por hora entre uma aeronave ETOPS e uma aeronave non-ETOPS, é tão significativa, que pode ser convertida facilmente em uma poupança anual e um programa potencialmente seguro para a eliminação, ou grande redução das operações ETOPS. Parece heresia, eu sei, mas se ficar provada a inviabilidade, mesmo me apedrejarei depois.

Por que fazer?

Um das coisas que eu aprendi na Boeing como desenhista de aviões, é que sempre é mais eficiente fixar a infra-estrutura do que o avião. Lembre-se, o todo o programa ETOPS foi valido para redução de custo, mantendo a segurança em um nível aceitável. Assim, se nós podemos manter o mesmo nível de segurança e podemos reduzir os custos mais adiante gastando parte dessa economia em infra-estrutura em vez de programa extra de manutenção de aeronave, é lucro. Apresentado às companhias aéreas como uma possibilidade para gastar menos dinheiro, penso que poderiam comprar a idéia.


Como podemos tornar isto mais útil

Conceitualmente concordamos que esta é uma boa idéia que esta é uma idéia em si mesma, mas o que mais poderíamos fazer com um aeroporto flutuante no meio do oceano, como agregar valor maior a este empreendimento?

Aviação comercial e executiva

Como e porque construir um aeroporto para servir como escala de segurança, mas também como porto para a aviação geral e comercial? O aeroporto teria instalações para reabastecimento, área para manutenção e reparo de aeronaves e acomodações (hotel), além de um restaurante, para as pessoas que precisassem, ou desejassem ficar mais tempo.Estes serviços seriam arrendados a um FBO. O ponto é aumentar a utilização pelas  aeronaves e tornar um negócio atraente economicamente, para os prestadores de serviços nestes portos. Com os aeroportos flutuantes em locais estratégicos ao redor do mundo, ficaria muito mais fácil e econômico, saltar dos EUA para a Europa, para a África, o Oriente Médio e a Ásia. Assim fica fácil voar de Salt Lake City até Honolulu, com uma parada para reabastecimento de combustível, ou um Falcon 1000 de Lisboa para as Ilhas Bermudas com uma parada no meio do oceano.  As taxas de pouso e os lucros da venda de combustível e serviços, poderiam pagar a manutenção da estrutura.

Marinheiros
 
Como teremos que ter algum tipo de navio que deverá ancorar periodicamente para abastecer a estrutura, tanto de serviços, quanto de combustível, porque não explorar a visita de barqueiros e turistas, que poderiam ancorar e passar alguns dias hospedados. Porque não melhorar isto um pouco e permitir visitas por barqueiros de lazer? Pessoas que estão velejando ao redor do mundo poderiam usar um lugar para parar no meio do oceano para um almoço ou jantar e o lugar para esticar as pernas, ou mesmo para utilizar uma assistência médica, ou fazer algum reparo em seus barcos. Cobre por ancorar na marina!

Ciência apoiando

Existem também as tripulações de pesquisadores oceânicos, que geralmente precisam de apoio em alto mar. Neste projeto, o aeroporto flutuante funciona como parte de um sistema de logística global que apóia a ciência, que eu penso ser bem aceito.
Engenharia apoiando R&D

Considerando que esta facilidade será fora da costa, devemos pensar em energia de fontes naturais disponíveis. O óbvio são a solar, aeólica e das ondas marítimas. Os engenheiros podem usar os sistemas a bordo destas pistas flutuantes para testar materiais novos, sistemas novos, e conceitos novos em laboratório.

Assim o que?

Há vários modos de se olhar para este projeto. Uma pessoa poderá olhar isto como um programa de segurança para vôos transoceânicos, outro pode olhar para isto como um meio de aumentar a utilização da frota de jatos executivos existente. Possivelmente o melhor é olhar para isto como um meio de ampliar a infra-estrutura para aumentar nossa missão de prover transporte rápido e flexível a pessoas e empresas.
Mantenha em mente, que o crescimento empresarial é em grande parte devido à inovação. Temos que fazer algo de novo, para que a aviação cresça mais rápido que a economia. Na escola de economia, nós chamamos esta fase de "maturação". Maturação é a fase antes do declínio e a obsolescência, quando começamos a gestar novas idéias e propor soluções para o futuro. Ou nós acreditamos no futuro da aviação comercial e geral, ou nós não faremos nada e passaremos para a história como alienados. Nós precisamos de uma geração nova de visionários, para alavancar um pouco mais a indústria. Agora é a hora.

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Terry Drinkard é Engenheiro Estrutural e fundou sua empresa em Jacksonville, Flórida, cuja área de interesse está no desenvolvimento de novos projetos de aviões e na indústria da aviação. Ele ocupou o cargo de engenheiro sênior na Boeing e na Gulfstream Aerospace, além de acumular anos de experiência na MRO que projeta grandes reparos estruturais. As áreas de Terry são: design de aeronaves, projeto e desenvolvimento de aviões, fabricante de aviões, manutenção e modificação de grandes estruturas.

Como vocês podem ver pelo currículo dele, não é um idiota escrevendo mais uma idéia mirabolante. Eu li com bastante atenção, até porque tive que traduzir e confesso que achei o projeto dele, técnica e economicamente possível e muito interessante.